A Tribuna - A 7- Local- Rafael Motta
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Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Carmo, do Centro de Santos, completou 20 anos de sacerdócio ontem.
Se seguisse o que desejavam seus pais, Lino de Oliveira, nascido em Biritiba Mirim, no Interior paulista, seria advogado ou engenheiro. Maior, porém, foi sua vontade seguir a vida religiosa. Após rigorosa formação, tornou-se frade carmelita - ordem religiosa surgida no século 11, cujos seguidores cultivam o silêncio, a solidão e a paz. Ontem, frei Lino, de 48 anos, completou duas décadas de sacerdócio. Metade deste período em Santos, onde é reitor do Santuário de Nossa Senhora do Carmo, mais antiga igreja da Cidade, erguida a partir de 1589. O frade celebrou a data como em outros dias: presidindo missas. E, segundo disse em entrevista para A Tribuna, convidando as pessoas a refletir sobre a importância da fé no cotidiano.
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Nestes tempos de valores mais materiais do que morais, que dificuldades há para se transmitir a Palavra de Deus?
Uma das dificuldades é o próprio não-saber da religião. O povo praticamente está reaprendendo os conceitos da fé, de religião. Vivemos um tempo de esvaziamento da fé. A influência cultural é muito grande, e a cultura, ao invés de favorecer a fé, às vezes, pelo contrário, torna-a mais sem sentido, e (a pessoa) vai buscar outras coisas. Existe um desespero alarmante, e nós, como religiosos, temos de enfrentar esse desafio com muito mais dedicação, nesse sentido de conhecer mais a fé.
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Houve mudanças significativas nestas duas décadas?
Como eu dou aula (é professor de Teologia do Instituto Beato José de Anchieta, vinculado à Sociedade Visconde de São Leopoldo, mantenedora da Universidade Católica de Santos), tenho observado que, à medida que nós nos envolvemos mais com essas questões modernas, mais e mais a gente vai deixando a religião de lado. Como consequência disso, começa a surgir aquilo que a gente chama, na sociedade moderna, de doenças da alma. Doenças da alma se combatem como? A partir do resgate da própria fé. Você vê depressão, angústia... as questões existenciais estão vindo muito mais à tona agora. Ficaram muito mais visíveis, pois o povo perdeu o contato com o sagrado. Aí, o desespero toma conta, e o consumismo vai substituindo certos valores importantes inclusive, a família, que vai sendo substituída.
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Há quem critique o discurso da Igreja, no sentido de que ele não se adaptaria ao avanço do tempo. O sr. pensa que a Igreja tem procurado se esforçar para modernizar a forma como ele tem sido apresentado?
Sim. Se você vir, nós temos o discurso sendo atualizado dentro da própria Igreja. Talvez, mal compreendido, e essa má compreensão é que torna o discurso não tão assimilado, não tão presente, já que é um discurso que, muitas vezes, extrapola a própria razão. Ele não está na superfície do ser: entra no mais essencial que o ser humano carrega dentro de si, e nós vivemos numa modernidade, hoje, em que tudo é superficial.
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Porém, há pessoas que, por desespero ou desilusão, acabam procurando por Deus, mas não necessariamente na Igreja Católica. Essa tentativa de religação pode ser considerada positiva mesmo fora da Igreja?
Porém, há pessoas que, por desespero ou desilusão, acabam procurando por Deus, mas não necessariamente na Igreja Católica. Essa tentativa de religação pode ser considerada positiva mesmo fora da Igreja?
É necessária, independentemente de religião. Nós estamos falando de uma necessidade humana. O sagrado é algo humano. O que nós temos como desafio, seja em qualquer religião que tenha sensatez, é possibilitar esse resgate do sagrado na vida, porque, com o envolvimento cada vez maior com as ideologias que temos na modernidade, isso (o sagrado) está sendo tirado do povo.
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A que ideologias o sr. se refere?
Estou falando de secularismo (separação de Igreja e Estado), do relativismo (pelo qual verdades variariam conforme a época e o lugar), das questões ideológicas apresentadas pelos meios de comunicação. Há a questão do nadismo, ou seja, de não acreditar em nada, desconfiar de tudo.
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Foi isso tudo que chamou sua atenção quando decidiu se tornar padre ou não pensava ainda nessas questões?
Hoje, depois de 20 anos de sacerdócio, a gente amadurece no ofício sacerdotal. É claro que, no começo, a gente não pensava dessa maneira. Muitas vezes, também, era influenciado pelas ideologias do momento. Por exemplo, eu fui formado dentro da Teologia da década de 80, pós-regime militar... Toda a cultura que se produzia era voltada só sob uma dimensão, que é a sociológica.
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Isso torna mais difícil incutir conceitos religiosos?
Isso torna mais difícil incutir conceitos religiosos?
Os conceitos religiosos se multiplicam. Graças às técnicas que se desenvolveram, isso é assimilado de diversas formas.