segunda-feira, 10 de outubro de 2005

História e arte no Convento do Carmo em Santos

Presença Diocesana - 12- Geral - Elizabeth Gonçalves Marques
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A Cidade de Santos está totalmente mergulhada na história do Brasil, com suas lendas, seus vultos históricos, seus mitos e sua religiosidade. Nasceu sob a égide de Brás Cubas, cavalheiro fidalgo da casa real e provedor da fazenda, nas capitanias de São Vicente e Santo Amaro, alcaide-mor da capitania de S.Vicente, "que povoou esta villa e fez de fogo morto, sendo esta villa tudo matto", conforme os registros da Fundação da Vila de Santos.
Martin Afonso de Souza, em 1532, fez a primeira distribuição de sesmarias de sua futura capitania, beneficiando alguns homens, entre eles nossos personagens principais: Brás Cubas, que ficou com as terras em torno do Monte Serrate, chamado na época de São Jerônimo. A expansão do cristianismo estava entre os objetivos do processo de colonização. Diante desse contexto, as ordens religiosas começaram a aportar em nossas terras com a finalidade da evangelização dos povos.
Evangelização
Em 1580 quatro padres carmelitas, sob a orientação de Pe. Domingos Freira, acompanhavam a expedição de Frutuoso Barbosa que se propunha fundar na Paraíba uma colônia. A tentativa de colonização fracassou por uma violenta tempestade que dispersou os navios. Barbosa voltou para Portugal, mas os carmelitas ficaram em Pernambuco e se estabeleceram em Olinda, onde conseguiram seu primeiro convento em 1583. Seguiram-se depois as novas fundações de Salvador (1585), Santos (1589) e do convento da Lapa no Rio de Janeiro (1590).
Poucos santistas sabem que existiu em Santos a pequenina Capela da Graça, imortalizada na pintura de Benedito Calixto que se encontra no Convento do Carmo hoje. Essa ermida dedicada a Nossa Senhora da Graça, por escritura passada em 24 de abril do dito ano de 1589 "para"- como diz o documento dos Anais dos carmelitas - "na mesma capella o referido Padre comissário Frei Pedro Vianna fundar convento de Religiosos do Carmo". Doação feita por José Adorno e confirmada em 7 de junho de 1603.
Em 31 de agosto do ano de 1589, Brás Cubas, grande benfeitor da Ordem do Carmo em Santos, fez doação aos frades dos chãos em que se acha fundada a Capela a Capela de Nossa Senhora da Graça, os quais constava de 44 braças de testada com 107 de fundos, pouco mais ou menos, como também das terras do Rio Jeribatyba, atualmente Jurubatuba.
Eis, pois, fundado o Convento do Carmo em Santos. Por dez anos, os frades ficaram residindo na Capella da graça, mas, desejando dar maior expansão à sua fundação, compraram em 2 de dezembro de 1599, o terreno em que está o Convento atualmente.
Barroco
É importante destacar a arquitetura barroca carmelita que resiste, pois seu registro histórico edificado nos embalam em tempos que não mais persistem, contudo deixam sua marca histórica. A arte barroca, do período colonial, está registrada dentro deste templo religioso, um barroco diferenciado do mineiro, mais simples, porém sem jamais perder a sua luminosidade própria.
O Convento do Carmo abriga obras sacras de valor inestimável, muitas desconhecidas pela população santista. Podemos elencar uma imagem de Nossa Senhora da Conceição do século XVIII, de origem portuguesa, de cunho erudito, de gosto barroco joanino, com vestes esvoaçantes, de rosto delicado, pisando a crescente lua e nuvens com cabeças de anjos que se encontra nas dependências do Convento.
Temos tembém o crucifixo do séc. XVII, peça esculpida em madeira clara, rosto com expressão mística, anatomia correta, além das esculturas de São Joaquim e Santana do séc. XVIII, com movimentos de corpo e rostos expressivos. E não podemos deixar de citar os quadros sacros de Benedito Calixto de 1922, que se encontram na capela-mor pintados especialmente para a Ordem, onde vemos as figuras de Santo Eliseu, considerado um dos percursores da Instituição; Santo Elias vestindo túnica e manto das cores carmelitas e portando uma espada; o Beato Nuno Alves Pereira feito cavalheiro pelo Rei D. Fernando por atos de bravura, vencendo batalhas e depois se tornando carmelita. Ainda na capela-mor vemos o quarto quadro do pintor santista, Santo Alberto de Mesina. Ele aparece trazendo Jesus nos braços e um ramo de lírio.
Arte e História
O prédio de estilo barroco apresenta retábulos da segunda metade do séc. XVIII, cheios de simbologias, com colunas torsas, talha ao gosto rococó e um belo douramento, característica da arte religiosa da época. E não podemos deixar de citar a peça do mobiliário, o cadeiral do séc. XVIII (cerca de 1730-1750) que enfeita o altar, toda em madeira jacarandá de execução muito cuidada com decoração em volutas como conchas e flores.
Arte e História- que Humberto Eco chama de "Obra Aberta" - misturam-se nesse templo religioso, respondendo aos anseios de uma época: a Contra-Reforma, a Evangelização e a conquista de Novos Mundos.
O homem moderno aprende a dar significado histórico, estabelecendo um pacto lúdico com as manifestações religiosas e o modernismo vigente que o estado exige.