quarta-feira, 3 de maio de 2006

Comunidade busca recuperação

A Tribuna- A-3 - Local - Luiz Gomes Otero
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A comunidade que a atua na Ordem do Carmo começa a se mobilizar em torno da recuperação do complexo religioso localizado na Praça Barão do Rio Branco, no Centro. A proposta consiste na elaboração de um projeto com três etapas distintas, que deve contar com recursos captados através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.
Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos ( Condepasa) o complexo é formado pela igreja e convento da Ordem do Carmo, cujo início da construção se deu em 1599, em um terreno doado por Brás Cubas, fundador da antiga Vila de Santos, e pela igreja da Ordem Terceira, erguida 150 anos depois. As duas igrejas são unidas por uma torre do campanário.
Parte da entrada proncipal e algumas janelas laterais da igreja da Ordem do Carmo conservam características do período colonial. "O restante da estrtura foi resultado de intervenções realizadas nos séculos 18,19 e 20. Mas também não deixa de ter um aspecto histórico relevante", explica frei Lino de Oliveira, responsável pela Ordem do Carmo.
Ele revela alguns detalhes curiosos da história, como a existência a antiga Rua da Cruz, que ficava na área hoje ocupada pela torre do campanário. Um monumento em forma de cruz, nos jardins do fundo da Ordem Terceira, simboliza o fato.
Outro ponto que desperta curiosidade são as quatro lápides esculpidas em mármore no final do século 19, no piso em um dos pátios internos do convento. Naquela época, eran comuns os sepultamentos no interior das igrejas. " Todos os restos mortais que estavam aqui foram transferidos para o cemitério do Paquetá. Essas lápides acabaram sendo preservadas mesmo após algumas intervenções realizadas", esclarece frei Lino.
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No local, não são celebrados mais casamentos. Somente missas (...). Mesmo assim, as duas igrejas são bastante procuradas pelo público, inclusive na hora do almoço. " Percebi que há uma identificação da população santista com os prédios considerados históricos", assinalou frei Lino.
O Colégio do Carmo foi fundado em 1917 e chegou a funcionar no Centro antes de ser transferido para a Ponra da Praia, em 1959. Atualmente, a escola não pertence mais aos carmelitas.

O plano é de arquitetura voluntária



O projeto do restauro do complexo da Ordem do Carmo está sendo feito de forma voluntária pela arquiteta Adélia Matos, que levou em consideração as características originais da edificação no período colonial.
Ainda não há informações precisas sobre o custo total da obra. O orçamento da primeira fase deve ser concluido dentro de 90 dias, assim como o anteprojeto da segunda etapa.
A primeira fase já foi aprovada pelos órgãos de defesa do patrimônio histórico. E compreende a recuperação emergencial da fachada e do telhado das duas igrejas e do convento, que apresentam problemas de infiltração. "Em um primeiro momento, essa é a intervenção mais urgente para garantir a estrutura existente".
Ela fez questão de ressaltar que a situação estrutural não é crítica. "Não há motivos para alarmar os fiéis ou admiradores das duas igrejas. Trata-se de uma edificação antiga que precisa passar por uma manutenção constante e periódica".
Na segunda etapa, o projeto prevê a recuperação de todo o mobiliário e altares de madeira na área interna, que conta com detalhes revestidos em ouro, em estilo barroco. Um jogo de cadeiras de jacarandá, destinada ao clero, chama a atenção de quem visita o local. Segundo Adélia Matos, parte da estrutura de madeira da igreja da Ordem Terceira foi danificada por cupins.
O anteprojeto desta segunda etapa será desenvolvido nos próximos três meses por um especialista em restauração do Estado de Minas Gerais. "Além da discupinização, a proposta consiste em recuperar as pinturas originais e todos os detalhes artísticos que compõem os altares".
A terceira e última fase inclui a recuperação dos revestimentos internos das duas igrejas e do convento, que passarão a contar com as características originais.
Depois de concluído, o projeto vai ser encaminhado para o Ministério da Cultura, que autoriza a capacitação de recursos via Lei Rouanet. A Prefeitura pode atuar como parceira neste processo. A Secretaria Municipal de Cultura acompanha o assunto, por intermédio do Condepasa.

Tombamento


Além de ser reconhecido como monumento histórico no âmbito municipal, o complexo da Ordem do Carmo também é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado ( Condephaat) e o Instituto do Patrimônio Histórico Nacional ( IPHAN), respectivamente órgãos estadual e federal.
O presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos, Bechara Abdalla Pestana Neves, confirmou a solicitação de restauração do complexo. "Nos últimos dois anos foram feitas algumas intervenções pontuais, como a recuperação da escada de madeira da torre do campanário. Agora, a comunidade pretende buscar recursos para uma restauração mais ampla. A primeira etapa já foi aprovada".
Segundo Pestana Neves, a proposta vai de encontro ao processo de revitalização do Centro Histórico, que vem ganhando força com a recuperação de vários espaços públicos, como o prédio da Bolsa Oficial do Café.